Estranhos em terras estranhas
«Por isso, sim, penso que a questão para nós hoje é como negociar a vivência com estranhos. Mas somos todos estranhos uns aos outros, talvez mesmo (e especialmente) se partilhamos a mesma cama. O que é um estranho? Talvez você tenha alguns pensamentos em relação a isto.» (Kazys Varnelis)
2009 chegou nem sabemos como. Ainda estávamos a arrumar as pantufas para calçar as galochas e já nos diziam bom ano! etc, e nós estremunhados de pantufas na mão a dizer, mas quem é que fez soar as badaladas e todos aos berros a dizerem, fui eu!, e nós, Onde é que arrumamos estas pantufas? É que o armário está cheio de… coisas.
E ninguém nos conseguiu ajudar nisso.
O Ilhas acabou, disseram-nos, mentalizem-se disso. E nós, está bem. E desmontámos as coisas. Fizemos vários montinhos, que é a forma de caber tudo em diversos lugares e não num só, isto vai para aqui, isto vai para aqui, isto para ali. Fechámos a porta atrás de nós (como fazem as pessoas quando acabam qualquer coisa, não?), e saímos. Só aí nos demos conta de que ainda trazíamos as pantufas calçadas.
E agora, já de galochas: obrigado a todos os que de alguma forma ajudaram a construir o Ilhas, directa e indirectamente. Obrigado pelas longas viagens em conjunto, pelos tropeções e pela clarividência, pela companhia, pelas perguntas, obrigado por não se assustarem com a ausência de legendas nos mapas, e principalmente, obrigado por não nos fazerem sentir desadequados por causa de termos comparecido a tudo isto de pantufas. Afinal de contas, nós somos assim. Mas, com a vossa ajuda, vamos sendo menos assim e mais outras coisas, e no entanto ser assim também é bom e vocês lembram-nos disso. peta dunia satelit . E continuemos à procura de construir a tal comunidade, em que possamos livremente falar daquilo que nos inquieta e nos fascina ao mesmo tempo, e também daquilo que nos indigna – que vão sendo cada vez menos os sítios para falar disso, e que pena, pois vão sendo cada vez maiores os motivos de indignação.
Aqui estão algumas das coisas que se avizinham para o primeiro semestre de 2009, e para as quais desde já vos convidamos, de pantufas, galochas ou sandálias, ou como quer que estejam e sejam:
Zonas #2 e #3 – programa pedagógico do Teatro do Vestido, onde trabalharemos a partir dos motes: Realismos (no primeiro trimestre), e Contemporâneos e Fragmentados (no segundo). As apresentações públicas dos trabalhos dos participantes no Zonas, serão em Abril e Junho.
Chegadas – Residência de criação e partilha de métodos de trabalho – Festival Escrita na Paisagem, Évora, Abril.
Porque na Noite Terrena Sou Mais Fiel que Um Cão – Primeiro projecto de criação de 2009, a partir dos universos de Margaret Atwood, Marina Tsvetáieva e Elizabeth Bishop. Estreia em Junho.
Os nossos projectos reflectem, como sempre, as nossas pesquisas dramatúrgicas, de criação e colaboração, bem como uma procura activa de partilha dos mesmos, em diversas iniciativas que vamos organizar: leituras encenadas, palestras, simpósios. Acerca destas vos iremos mantendo informados.
Desde já agradecemos a construção de uma plataforma de pensamento e de acção sobre a realidade, e queremos continuar a partir dessa base de partilha.
«…Até poderíamos sonhar com uma comunidade de sonhadores que se juntassem para sonhar o que vem aí.» (John D. Caputo)
P’lo TdV
Joana Craveiro
(Directora Artística)