Exaustos

Estreia no 3RCEIRO ANDAR NO CHIADO |27 de Abril de 2005
Reposição no Pavilhão 27 do Hospital Júlio de Matos | Maio de 2006
Apresentação no Festival Mostra-TE, no Museu Nacional de Teatro em Lisboa | Novembro de 2006
Desenvolvido em colaboração, com direcção de Joana Craveiro,  interpretação de Joana Craveiro e Tânia Guerreiro e participação especial de Inês Rosado

em quadros fragmentados, duas pessoas-personagens questionam-se acerca do absurdo estarem ali – mortas – frente a uma plateia de pessoas
que as olham
embasbacadas
se uma delas gritar por socorro, é favor não a desenterrar
se a outra os impedir de ajudarem a enterrada, é favor ignorar a proibição
estamos todos juntos nisto de vivermos – era tão bom que aprendêssemos de uma vez por todas como chegar mais perto de cada um dos outros à nossa volta ou seja de nós.
Exaustos trata de uma condição, de uma atmosfera, mais do que de uma acção. Construída a partir de vários restos, entre os quais de tempo, dinheiro, textos fragmentados, de inspiração, energia, cansaço, Exaustos conta várias histórias. Entre o passado e o presente, factos reais e inventados, quatro pessoas numa cave de um pavilhão identificado por um número – 27. Há várias portas, mas nenhuma abre ou fecha bem. Há várias possibilidades para cada um dos textos. Cada dia é diferente, mas o essencial não muda. Ali dentro o tempo não passa, não conta, e volta sempre. Exaustos é uma quase-peça e nós nela estamos quase vivos. Esta peça foi originalmente concebida nas margens da cidade, em periferias por onde nos movíamos no ano passado. Fala no entanto da vida das cidades, e de alguns dos seus sintomas. Durante muito tempo não soubemos o que era Exaustos. Depois, quando começou a tornar-se claro, guardámos Exaustos durante um ano numa gaveta. Hoje, mais esclarecidos, recuperamos a atmosfera, as palavras, a condição de que trata
Exaustos, as memórias, as mortes. Acrescentámos alguma humidade, algum pó, algumas fechaduras trocadas, alguns restos mais – de tempo, dinheiro, vontade, alegria. E começa finalmente a fazer sentido. E estamos finalmente a dançar juntos, passados os desencontros todos.
Na reposição de Exaustos no Pavilhão 27 de Hospital Júlio de Matos, foram introduzidos novos textos, e repescados textos antigos de velhos computadores à beira do abate. É utilizado um pequeno excerto de um poema de Ruy Belo, ‘Muriel’. Uma das personagens de Exaustos foi quase completamente reinventada, e recolocada no espaço. Poderia dizer-se, que encontrou o seu espaço. Ainda bem.
Exaustos continua a ser uma obra de ficção. Ainda que seja (um pouco) sobre nós.

Fragmentos de um diário de ensaios (sem data):

Foi difícil chegar a uma estrutura e ainda mais difícil saber do que se queria falar, o mais difícil, porém, foi recuperar a dor de certos momentos, como aquele dia no armazém do piso -1dto da Pontinha, quando a Tânia me encheu de terra, ou as pessoas a olharem para nós perplexas, no parque de estacionamento deserto, ou a camisola semi-enterrada junto à Lagoa de Albufeira, ou da primeira vez que fizemos o peixe, ou daquelas primeiras vezes que dançámos (queres agora?), ou a sensação do terreno limpo das urtigas, na casa de quase-praia de que falamos na peça, ou quando a Inês colocou a medusa na cabeça, ou quando a Tânia rebolou no alcatrão a fazer de praia, ou quando aquele senhor acenou quando o chamámos:…! Queria agradecer a esse senhor.
Penso sempre nele quando fazemos essa cena.
Joana Craveiro

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