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Os Fragmentos Delas

Residência Oficinas do Convento, Montemor-o-Novo | 6 a 12 Abril 2009
Apresentação Oficinas do Convento, Montemor-o-Novo | 11 Abril 2009
Residência de criação referente à 11º criação do Teatro do Vestido intitulada Porque na Noite Terrena e Sou Mais Fiel que Um Cão, com direcção de Joana Craveiro e interpretação de Inês Rosado, Rosinda Costa e Tânia Guerreiro.

Por Joana Craveiro

O nosso ponto de partida é o universo e algumas obras de três autoras: Elizabeth Bishop, Marina Tsvietaeva, Margaret Atwood. Desse ponto de partida afinal abrangente e ao mesmo tempo vasto no qual nos perdemos sempre sem saber para onde ir, vamos construindo pequenas portas, diques e outras coisas, dentro dos quartos delas.
Elas trabalham sobre as seguintes ideias: jogo,diabo, causas perdidas, vencidos, um herbário, perda, morte, um funeral.
Elas trouxeram fotografias delas.
E criaram jogos cujas regras só elas sabem, e percursos que só elas sabem descrever.

Nós vemos de fora, espantados.
Nós somos palavras numa língua estrangeira em revisão ortográfica.
Elas estão atrasadas em relação a todos os outros.
As ilhas estão por cartografar, e o houve alguém que não compareceu ao encontro apesar de ter dito que viria.
Estamos todos à espera.
E sabemos dizer exactamente quando esta se tornou numa batalha perdida.

Queríamos ser arqueólogos à procura delas, mas não conseguimos. Ficamos pela ficção. Sim, ficamos por aí.

O projecto Porque na Noite Terrena Sou Mais Fiel que um Cão insere-se num projecto amplo de criação do Teatro do Vestido a partir de autores literários, combinando-os em duas criações distintas, das quais Porque na Noite Terrena… é a primeira. Como todas as primeiras coisas sofre daquela sensação de pioneirismo a que se associa um certo frio na barriga, confusão, ilusão, uma certa sensação de desfoque. É essencialmente um projecto de procura de portas, de fronteiras e de limites. Sobre como partir de textos mas rapidamente sair deles, porque nunca tivemos intenção de fazer estes textos mas sim de encontrar neles essas entradas e saídas, que nos permitem construir material cénico inteiramente nosso, no qual ressoe aquilo que mais nos inquieta e fascina hoje mesmo, aqui.

A residência de criação nas Oficinas do Convento insere-se na primeira fase do processo de trabalho, e servirá como espaço de experimentação e súmula dos materiais que temos vindo a criar numa casa (ainda) desabitada na Rua das Enfermeiras da Grande Guerra, em Lisboa.
De dentro dos quartos fracamente iluminados de uma rua de Lisboa, para fora, para aqui – esperamos descobrir neste confronto da intimidade anterior com a exposição e a concentração que este residência criativa nos oferecerá, algo que até agora desconhecíamos.
E planeamos mostrar tudo isso numa apresentação que desejamos informal no dia 11 de Abril. Talvez por causa desse lado informal, chamámos a toda esta aventura Os Fragmentos Delas.

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