Zona #2

Formação Rua da Esperança, Santos, Lisboa | 13 Janeiro a 22 Março 2009
Apresentação Rua da Esperança, Santos, Lisboa | 22 Março 2009

Nesta Zona #2, cujo título foi Realismos, partimos do universo das Três Irmãs, de Anton Tchekov e cedo o abandonámos. Experimentámos criar materiais cujos pontos de partida só muito remotamente se reportavam às Três Irmãs. E no entanto a memória desse universo acompanhava-nos.

Por fim, lançámos o desafio a cada um dos intervenientes do Zonas, de se centrar no percurso de uma determinada personagem da peça, num determinado acto. Quando dissemos percurso, queríamos dizer realmente seguir a personagem, mesmo naquilo que Tchekov não escreveu. O resultado são as três encenações que se apresentaram no dia 22 de Março.

Encenações:

MIL OLHARES – O NASCIMENTO DE FRANKIE
Criação: Gonçalo Fortes
Co-Criação/interpretação: Marta Lança e Rita Jardim

Marta: Acto 1 – Olga / Rita: Acto 2 – Macha / Gonçalo: Acto 3 – André

O que aconteceria se Lewis Carroll escrevesse o argumento para um filme interpretado por Boris Karloff e Linda Blair?
Nada! Os dois primeiros já morreram, a última só faz filmes de terceira categoria e o argumento de “Mil olhares – O nascimento de Frankie” é bom!
Quais serão as forças que nos moldam?
O trabalho que odiamos todos os dias e que nos obriga a levantar cedo?
O socialmente correcto que temos de ser, quando nos apetece odiar, ou ignorar, ou simplesmente saltar?
Quantos serão os olhares que nos definem?
Aqui, o espectador é convidado a olhar a olhar a olhar a olhar a olhar a olhar a olhar a olhar a olhar a olhar a olhar a olhar olhar olhar olhar olhar olhar olhar olhar olhar olhar olhar para o interior de uma criatura que é definida pela soma daquilo que os outros vêem dela com aquilo que ela vê de si própria. A tragédia da escolha da personalidade, o drama da rotina vazia, o horror de não ser… Ou será não sermos?
São mil, mais coisa, menos coisa. Ninguém está a contar

VIAGEM AO LUSCO-FUSCO

Criação: Rita Jardim
Co-Criação/interpretação: Marta Lança e Gonçalo Fortes

Marta: Acto 1 – Olga / Rita: Acto 2 – Macha / Gonçalo: Acto 3 – André

Duas crianças, duas pessoas, duas vidas vividas sozinhas e mortas, no centro do mundo.
Um assobio, um arrepio, um quem-sabe-se-talvez-possa-sentir-me-vivo.
É uma vida qualquer de qualquer pessoa.

MAS O QUE É QUE EU SEI FAZER?
Criação: Marta Lança
Co-Criação/interpretação: Gonçalo Fortes e Rita Jardim

Marta: Acto 1 – Olga / Rita: Acto 2 – Macha / Gonçalo: Acto 3 – André

Que relação têm as pessoas com o trabalho? Perguntei a vários amigos, e o resultado são relações ora neuróticas e intensivas, ora de negação, ora de confusão com a vida (ou necessidade de o demarcarem dela). Uma certa frustração com tantos trabalhos dispersos, tanto biscate cultural, tanto braço no polvo que somos, em que depois parece nada ficar. As novas formas de trabalho não material, à distância e com imensa flexibilidade. A exigência de uma vida com liberdade de movimentos. O desprezo pela autoridade. A indignação dos precários. O capitalismo que nos amordaça. A defesa da preguiça mas dificuldade em vivê-la.
Vontade de partir não importa para onde, apenas a ideia de partir sustenta um discurso de insatisfação circular. Quase o vazio. Era este o vendaval que predestinava uma personagem de Tchekov que iria mudar a nossa sociedade e acabar com o tédio pestilento? Tanta coisa mudou e insatisfeitos continuamos como estas personagens de há mais de um século.

Criadores Gonçalo Fortes, Marta Lança, Rita Jardim
Orientadores Joana Craveiro, Rosinda Costa
Produção Sandra Carneiro
Assistência Produção Sonia Silva Ferreira
Apoios Junta de Freguesia de Santos, Relógio d´Água