Texto

Estreia Casa de Teatro de Sintra | 12 Novembro a 5 Dezembro 2010
Co-Produção com Compª de Teatro de Sintra/Chão de Oliva
Desenvolvido em colaboração, com direcção de Joana Craveiro e interpretação de Nuno C. Pinto e Rosinda Costa.

Por Joana Craveiro

Nesta viagem eles não levam mapa.
É-lhes atribuída uma missão.
É-lhes pedido que sejam fortes, que não recuem, que vão até ao fim.
Talvez eles não aguentem.
Ou talvez eles descubram simplesmente que nada daquilo
leva a lado nenhum.

Tendo como ponto de partida a obra O Pássaro Azul, de Maurice Maeterlinck, Pássaroconta a história de uma viagem fragmentada em busca de alguma coisa que salve uma pessoa que está a morrer. Levados por esse sentido de missão, eles atravessam países (dentro deles próprios), vão do passado para o futuro sem deixar de passar pela morte, falam com todas as pessoas com educação, tentam ao máximo fazer o que se espera deles, e quase que o conseguem a cada momento, e quase que não desistem, como quase não chegam a partir no início, como quase não compreendem, como quase não querem.

O trajecto faz-se em linha recta de uns sítios para os outros sem passar por fronteiras (uma invenção mais recente e de outro domínio que não o deles): Casa – Palácio – País da Saudade – Medos – Floresta – Cemitério – Jardim das Felicidades – País do Futuro – Casa (ou talvez não).

Como numa outra célebre viagem, a da Sophia de Mello Breyner, os caminhos para trás vão desaparecendo, e os dois dão por eles a braços com um mapa sem linhas, sem estradas, sem nada assinalado nele a não ser ordens recebidas por intermédio de uma pessoa sem nome que assina Fada e lhes diz: partam.

E eles partem.
Porquê, nunca saberemos.

A aventura dos dois em cena, é também, no contexto específico deste projecto, a aventura de duas companhias a colaborarem – sem mapas – na construção de um objecto teatral fruto em primeiro lugar de um convite – da Companhia de Teatro de Sintra ao Teatro do Vestido. O mote: trabalhar a partir de Maurice Maeterlinck. Escolhemos o Pássaro Azulpor sentirmos que na viagem daqueles dois personagens havia coisas das quais tínhamos vontade de falar: casa, desigualdade social, memória, solidão, desadequação, excesso, perda, recuo, desistência, perseverança, livre-arbítrio.

Os personagens do Pássaro Azul não são os do Pássaro, mas algures nas viagens deles todos, uma mesma vontade de encontrar aquilo que lhes foi proposto lhes norteia o caminho acidentado. Eles são corajosos. No fim, tudo se resume a isso. Talvez seja aí que ambos os textos se encontrem. Para além disso, escrevemos, recontámos e reinventámos o texto original (como fazemos sempre), dessa forma nossa de construir, questionar e pesquisar o que quer dizer “a partir de”.

Agradecemos à Companhia de Teatro de Sintra o generoso convite, acolhimento, e a já tão referida ausência de mapa, que foi para nós muito libertadora.

 

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